Wednesday, May 28, 2014

Évora, 2014/05/25



Após 23 dias de “navegação” por terras húngaras, a aventura chegou ao fim.
Com esta breve crónica encerra-se um relato em que procurámos partilhar os principais aspectos de uma vivência colectiva ao longo de três semanas, combinando experiências de voluntariado, intercâmbio cultural e aprendizagens múltiplas, num esforço de concertação e adaptação permanente.
No sábado, de manhã, foi possível visitar o interior do magnífico edifício do Parlamento da Hungria, tendo-nos sido explicada a sua história e alguns detalhes relativos ao funcionamento passado e presente daquela “casa da democracia”.
Terminada a visita, fomos surpreendidos na praça fronteira ao edifício com um conjunto de demonstrações militares, de elevada qualidade técnica e estética, em que participavam grupos representativos de vários países. O sincronismo e a complementaridade entre os diferentes elementos de cada grupo eram ali levados ao extremo absoluto.
Para o final da tarde estava agendada a “farewell” com que os nossos anfitriões desejavam obsequiar-nos.
Depois de conduzidos (pela nossa Brigitte) a um restaurante típico da baixa citadina, tivemos aí a satisfação de reencontrar vários dos nossos parceiros mais assíduos (uns, colaboradores directos do ÖKA, outros, apenas também voluntários seniores como nós).
Foi uma tarde/noite muito gratificante. Ao som de música ao vivo de elevado nível, o jantar decorreu num clima de grande amizade, confraternização e cumplicidade no que diz respeito às questões do voluntariado internacional.
A certa altura, o senhor András (director do ÖKA) tomou a palavra e, num breve mas muito significativo discurso de despedida e agradecimento, fez referência a um variado conjunto de questões.
Pessoalmente, András sente-se apaixonado por Portugal, desde que visitou o país pela primeira vez.
No seu entender, há bastante tempo que Portugal e Hungria mantêm relações estreitas, mas a cooperação até agora desenvolvida não se tem estendido ao campo do voluntariado. Nesse sentido, é muito importante que se tenham criado as condições adequadas para concretizar o presente programa, uma vez que no passado este nível de cooperação era efectuado somente a título pessoal.
Nas palavras do seu director, o ÖKA é uma pequena organização quando comparada com a quantidade de desafios que se lhe têm colocado. Segundo ele, este projecto decorreu, até agora, sob o signo do sucesso (apesar dos meios reduzidos de que o mesmo dispõe), essencialmente porque conta com a dedicação de muita gente. Neste caso concreto, nada teria sido possível sem o inexcedível empenhamento de algumas pessoas (profissionais ou voluntárias), especialmente a Brigitte e a Judit que se encarregaram dos detalhes do programa.
Imediatamente após as palavras de András, também nós tivemos oportunidade para tecer algumas considerações. Pela voz do Paes, num “discurso” previamente preparado, agradecemos todo o acolhimento, compreensão e amizade com que sempre fomos brindados ao longo destes dias. Depois, de viva voz e a pedido do nosso anfitrião, cada um de nós referiu os aspectos do programa que mais lhe tinham tocado.
Pode dizer-se que foi muito positiva esta conversa aberta e franca.
No final, houve uma simbólica troca de lembranças. A mais tocante terá sido, talvez, a oferta que nos foi feita de uma fotografia panorâmica da cidade de Budapeste, autografada com dedicatórias dos nossos amigos presentes.
E chegou o dia de domingo.
Preparar as malas e resolver alguns assuntos de natureza burocrática, tomou-nos a maior parte do tempo.
A meio da tarde fomos conduzidos ao aeroporto pela Judit, pela Giselle e pelo Tibor.
Entre abraços grandes, promessas de reencontro, e um enorme “köszönöm” da nossa parte… lá fomos para o avião da TAP que nos levaria de regresso à Lusitânia.
Chegámos a Lisboa à hora prevista (22:30h), onde tínhamos a grata surpresa de rever já a nossa “mentora” Tânia.
A viagem até Évora foi saborosa. Era bom olhar à volta e rever coisas nossas. Era bom falar e ouvir português. Era bom recordar e partilhar as aventuras das últimas semanas. Era bom estar em casa. É bom estar aqui!













Sunday, May 25, 2014

Budapeste, 2014/05/23



Iniciámos este dia, que será o último que consta do esquema de trabalho desenvolvido no âmbito do “Senior Activator Program”, com a certeza de que seria quente e repleto de experiências que nos deslumbrariam.
Assim, acompanhados que fomos por um verdadeiro “batalhão” de voluntários do ÖKA, sobejamente conhecidos, e de outras tantas  voluntárias do Senior Club, iniciámos a viagem na estação de combóios Nyugati, às 9h e 8 m, que em 30 minutos nos conduziu a Vác, onde nos esperavam Suzana e Marta, que providenciaram o transporte numa carrinha conduzida por um simpático jovem até Kosd.
Aqui, esperavam-nos umas amáveis senhoras que nos mostraram os seus trabalhos em renda e bordados típicos que podiam ser adquiridos. Conjuntamente, Peter, um apicultor da zona, mostrou-nos uma panóplia de mel e seus compostos e também sabonetes artesanais.
Dentro de casa, esperavam-nos frutos da época, a famosa Palinka e especialidades de doçaria confecionadas “in loco”.
Depois, o vice-presidente do projecto local de voluntariado, o sr. Bohács, apresentou-nos a sua equipa, incluindo a senhora presidente. Foram-nos, ainda, transmitidas as “guidelines” orientadoras do que haviam preparado para nós.
Primeiro deslocámo-nos, por campos verdes e floridos, para uma zona da aldeia (com 2500 habitantes) onde plantámos uma cerejeira, que nos pareceu ser a árvore que melhor se dá nesta zona de Kosd.
Tivemos, depois, a grata visita de 40 crianças do infantário, acompanhadas pelas educadoras, que nos saudaram com cânticos húngaros. Vivemos intensamente aquele momento tão puro de crianças que transportavam bandeirinhas por elas executadas, em que numa face tinham a bandeira húngara e na outra a nossa bandeira. Tratou-se, sem dúvida, de um gesto do maior simbolismo. Como forma de agradecimento, também cantámos para elas algumas músicas infantis usadas no nosso País.
Depois, novamente a pé, dirigimo-nos para um local de estufas de produtos hortículas.
O nosso grupo foi dividido em dois: um ficou neste espaço ajudando duas senhoras locais que, com arbustos e plantas, confecionavam arranjos florais.
O outro grupo dirigiu-se para uma casa, em que se encontravam, maioritariamente, roupas e calçado, umas novas outras usadas, a fim de serem selecionadas e armazenadas para serem distribuídas por pessoas carenciadas. Neste centro também se encontravam roupas e calçado novos que alguns elementos aproveitaram para adquirir, com o objectivo de também contribuírem para a causa.
Como a hora de almoço tinha chegado, dirigimo-nos para casa de uma família abastada que nos esperava com iguarias húngaras, tendo sido mais uma vez acarinhados e rodeados de simpatia e arte de bem receber. O momento foi aproveitado para felicitarmos um menino que, neste dia, partilhou connosco o seu sexto aniversário.
A seguir, tivemos a grata surpresa de sermos conduzidos numa “caleche”, puxada por dois garbosos equinos, pelas ruas da aldeia, o que culminou num contacto com cavalos e suínos, pertença de quinteiros da zona.
Sob um sol abrasador, e voltando a utilizar as mesmas formas de transporte, fomos depois recebidos por uma família, na sua adega, que com orgulho e vaidade, nos presenteou com uma prova de vinhos.
Após esta troca de experiências e saberes, regressámos a pé ao espaço no qual tínhamos estado de manhã, onde nos acolheu um grupo musical ligado à Paróquia. Interagimos com eles e com algumas crianças, as quais, acompanhadas dos pais, se entregavam a “toques de bola”.
















Budapeste, 2014/05/22




Hoje, após o pequeno almoço, fomos, acompanhados pela Judit e pela Giselle, a caminho do Banco Alimentar Húngaro (BAH) designado por “MAGYAR ÉLELMISZERBANK EGYESÜLET”.
Foi necessário utilizar dois tipos de transporte (eléctrico e autocarro) para lá chegar, tendo o percurso demorado cerca de 40 minutos.
Chegados ao BAH, fomos recebidos pela Andrea (relações públicas) que, num bom inglês, nos encaminhou para o local da reunião, onde estava tudo pronto para a apresentação sobre a instituição.
Começou por dizer que o BAH foi fundado em 2005, após a integração da Hungria na União Europeia em 2004, mas só em 2006 efectivamente passou a funcionar como complemento de “ajuda” a instituições carenciadas.
Esta instituição recebe géneros alimentares de muitas fontes, tais como supermercados, hipermercados, empresas particulares, pessoas individuais. Durante a campanha anual são recolhidas mais de 500.000 toneladas de alimentos diversos. Para além disso, implementa campanhas de sensibilização para a angariação de fundos, que vêm da venda de diversos produtos que as instituições preparam e são posteriormente vendidos.
As campanhas envolvem, especialmente, restaurantes e similares, para que estes, ao venderem as refeições por um preço um pouco mais elevado ou cativarem mais clientes (com folhetos colocados em locais bem visíveis), acabem por contribuir para o BAH. A receptividade no início não foi boa, mas, com uma campanha de sensibilização, nos jornais, TV, rádio… passou a ter melhor impacto. Estas campanhas têm também uma dupla finalidade suplementar, a de evitar desperdício e a de reforçar a quantidade de refeições a servir directamente aos utentes.
As instituições, para poderem usufruir da ajuda do BAH, têm de apresentar listas de beneficiários, obedecendo a normas e especificações criteriosas, para serem validadas, devendo coincidir aquando das inspecções efectuadas. De resto, tenta-se o mais possível evitar a fraude. É proibida a venda dos géneros oferecidos, pelo que os mesmos são sempre recebidos sem rótulos.
Artigos como leite, iogurte, fruta, legumes (enfim, todos os géneros perecíveis), são distribuídos no próprio dia, pelo que as instituições são contactadas para, com as suas próprias viaturas, procederem à sua recolha.
O BAH não tem viaturas próprias de grande capacidade, nem tem qualquer apoio de empresas de distribuição, ao contrário do que acontece em Évora, onde há organizações que efectuam o transporte dos géneros de todos os locais de recolha para o armazém, sem cobrar.
O BAH é muito recente, mas está a caminhar no sentido de se implantar e de ser reconhecido como elemento importante na vida das pessoas carenciadas.
Após a reunião em que nos foram fornecidas as informações atrás sintetizadas, visitámos brevemente as instalações e dirigimo-nos para o armazém, onde colaborámos na colocação de etiquetas e no empilhamento de produtos em paletes.
Terminadas as tarefas no BAH, regressámos ao centro de Budapeste, passando pelo Central Market Hall, onde decorria uma mostra de produtos portugueses no âmbito de uma iniciativa da Embaixada Portuguesa.









  


Budapeste, 2014/05/21



Depois de nos últimos três dias termos andado pelos meandros do voluntariado puramente social (imigrantes, deficientes e crianças), regressaríamos hoje ao campo do voluntariado cultural, desta vez para o integrar numa lógica ao mesmo tempo ambiental e social.
Nesse sentido, e conforme programado, saímos bem cedo em direcção ao “Skanzen Open Air Museum”, a cerca de 30 Km de Budapeste, acompanhados pela Judit, pela Erzsi e pelo Tibor .
Uma vez aí, fomos amavelmente recebidos pela directora da instituição (Zsuzsa), por uma colaboradora profissional (Lilla) e por uma voluntária sénior (Agnes).
No decurso de uma reunião informal, a directora do museu começou por nos explicar, detalhadamente, a natureza e a razão de ser do projecto sócio-cultural-ambiental que lidera, fazendo questão de sublinhar que se trata do maior "museu a céu aberto" da Hungria e um dos maiores da Europa. Acrescentou ainda que, tendo começado (há quarenta anos) por ser, apenas, um museu de arquitectura, ele é hoje um "complexo etnográfico" representativo dos modos de vida tradicionais de oito regiões da Hungria, através do qual se procura trazer para o presente, e levar para o futuro, os traços fundamentais que definem as gentes de uma nação com mais de dez séculos de história.
Houve ainda oportunidade para que, a pedido daquela responsável, cada um de nós expusesse brevemente a sua própria experiência de voluntariado, após o que fomos conduzidos às oficinas de restauração do museu.
Apresentados aos técnicos que aí trabalhavam, e depois de devidamente equipados para o efeito, fomos integrados nas actividades em curso; e durante cerda de duas horas, procedemos a diversas operações relacionadas com a recuperação de peças museológicas em processo de tratamento e catalogação.
Seguiu-se um frugal almoço de trabalho no interior de uma adega típica (parte integrante do museu), findo o qual fomos encaminhados para o terraço do edifício administrativo do complexo, onde procedemos à extracção e eliminação das ervas daninhas que infestavam o piso (com cerca de 200 m2 de superfície). A propósito, foi-nos dito que a intervenção se revestia de especial relevância pelo facto de esse mesmo espaço (contíguo a uma ampla sala de reuniões) ir ser utilizado nos próximos dias, no âmbito de um evento que ali irá ter lugar.
Terminada essa árdua tarefa (desenvolvida ao sol e com uma temperatura do ar a rondar os 30 graus centígrados) fomos então presenteados com uma agradabilíssima visita a diferentes secções do museu, para o que utilizámos, por duas vezes, o comboio privativo do complexo, que o percorre ininterruptamente ao longo do dia. A par disso, fizemos longas caminhadas a pé entre as diferentes edificações, apreciando os detalhes, conversando com os protagonistas (que ali desempenhavam os respectivos papéis com todo o realismo), e interagindo com outros visitantes (entre eles, imensas crianças das mais variadas proveniências).
E, entretanto, chegou a hora de encerramento do complexo.
Conduzido pelo Tibor, o nosso minibus levou-nos então a passear a uma pequena vila nas imediações do museu, mesmo à beira do Danúbio – Szentendre.
O entardecer apresentava-se magnífico. O ambiente era acolhedor e a paisagem convidava-nos à nostalgia. Fomos ficando por ali.
Jantámos calmamente, ao ar livre, no meio de conversas cruzadas em que o português se misturava com o húngaro e com o inglês, num linguajar que, longe de separar, unia e fortalecia.
Era noite. Voltámos à nossa casa emprestada. Por mais uns dias (poucos)...